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O ESTADO DE SÃO PAULO

CADERNO ZAP!

QUINTA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 1995


CHAMADA DE CAPA:

O livro Em Busca de Drácula faz sucesso entre jovens maníacos por Vampiros, que se conheceram via BBS


Sangue novo na história de Drácula

Jovens Vampiros trocam figurinhas via Internet, RPG, palestras, livros, convenções; eles usam codinomes vampirescos e fazem novas leituras do secular chupador de sangue.

RICARDO ALEXANDRE

Depois da overdose da mídia que acometeu os chupadores de sangue por conta dos filmes Drácula de Bram Stoker e Entrevista com o Vampiro, os reis da palidez e bafo tétrico vão mostrando suas asas (ou os caninos) novamente, via RPG, encontros, livros, Internet ou como convir às estranhas criaturas.
Tudo começou com o lançamento no Brasil da nova versão do livro Em Busca de Drácula e Outros Vampiros, dos pesquisadores Raymond McNally e Radu Florescu (veja matéria nesta página) e a Semana Drácula, que rolou no SESC Ipiranga no mês passado. Lá, um jovem e ativo grupo trajando preto de cima a baixo chamou a atenção, pelo interesse e pelo conhecimento de causa. "Os Vampiros são, ao mesmo tempo, uma evolução e uma volta às origens da humanidade", opina Ernesto Nogueira de Matos, de 17 anos, o Lestat do grupo (todos os vampiromaníacos do grupo se conheceram via BBS, onde se identificam com nomes de Vampiros). "Os Vampiros não matam por maldade, como os homens, mas apenas por instinto, como os animais", completa ele. O grupo do qual Ernesto faz parte se conheceu através de uma BBS dedicada ao vampirismo, a Mandic. Junto dele participam Carla Porto, Eduardo Henrique, Adriano Penha e Alexandre Figueiredo.

O mais ambicioso passo do grupo até agora está sendo dado por Carla: um romance vampiresco-juvenil O Despertar, que está completo (leia trecho abaixo) e circulando nas mesas das editoras. "Comecei a escrever em fevereiro com uma história de uma jovem de 20 anos que se torna Vampira e de como ela conhece outros Vampiros", conta Carla. Seus quatro amigos colaboram na pele de outros sugadores. "Escrevi cada um dos personagens baseada em meus amigos", revela. Segundo o dialeto vampiresco, "despertar" é quando uma pessoa morre para a natureza humana e renasce como Vampiro. Já seu colega de conferência, Eduardo Henrique Wolverine da Silva, de 17 anos, não tem interesses profissionais como Vampiro. "Não ligo muito para os estereótipos, prefiro me espelhar mais na intensidade com que eles vivem." Eduardo é titular da seleção de futebol da USP e pretende continuar batendo uma bola, profissionalmente. "Extraio o melhor do estilo dos Vampiros para minha vida", conta. "Uso toda a fome de vida que eles têm quando estou dentro de campo. " Eduardo iniciou sua paixão pelos monstrengos com o RPG Vampire. O jogo é outro ponto comum entre os jovens vampirólogos, juntamente com o paintball.

Dentro do grupo, cada membro tem sua função. Enquanto Jade se especializa em interpretar lendas e metáforas e Adriano Thunder Penha se aprofunda nas origens do assunto, Ernesto Nogueira, o Lestat, cuida de estudar o mito através da ótica médica. "Os Vampiros são seres humanos com maior número de glóbulos brancos, com um sistema imunológico perfeito", viaja. Ernesto também é responsável pela formação musical dos amigos. "Não conheço nenhuma vertente de rock vampiresco" , assume. "Mas costumo estudar músicas com letras e climas que tenham a ver com Vampiros." Lestat cita grupos como Danzig, Type' O Negative como exemplo. Ele tem, ainda por cima, uma banda, Mastery, que explora mais este conceito.

Alexandre Felipe Figueiredo, codinome Phoenix, explica melhor estas áreas de estudo: "Nós analisamos as figuras folclóricas, confrontamos com as versões do mito e tentamos aplicá-las na realidade." Alexandre, que estuda a área psicológica dos bafo-de-cadáver, foi o Vampiro que melhor definiu o fascínio que essa figura antiquíssima exerce sobre os jovens: "um Vampiro é um ser humano que vive no limite da vida", conta. "É por isso que eles evitam o sol, por causa da preguiça que ele causa, e ninguém quer ficar com preguiça quando se quer viver."