GRANDE PRÊMIO DO BRASIL DE 1983


Jacarepaguá, 13 de marco de 1983



Em 1983 todos reclamavam do estágio evolutivo da fórmula 1.

Diziam que qualquer pessoa poderia pilotar um monoposto com efeito solo.

A fórmula 1 estava muita cara, também.

Atendendo as reclamações, a FIA publicou um novo regulamento, a vigorar imediatamente.

As equipes tiveram três meses, dezembro, janeiro e fevereiro, para adaptar os carros aos novos critérios.

O objetivo era tornar os carros mais lentos e difíceis de pilotar.

Mário Andretti chegou a dizer que, com as modificações, eles voltariam a pilotar de verdade.

O peso mínimo dos carros foi estabelecido em 540 kg.

O regulamento alterou as medidas do aerofólio.

A fórmula 1, entretanto, estava cada vez mais cara.

Os motores turbo, e a utilização de materiais como a fibra de carbono, colaboravam para a paulatina eliminação de equipes pequenas.

O quadro ficava ainda mais complicado com a chegada das gigantes Renault, BMW, Porsche e Honda.

Colin Chapman, o criador do efeito solo, não viveu para ver o final da sua obra prima.

Ele morreu no final de 1982.

A inevitável perda de desempenho, provocada pelas restrições aerodinâmicas, seria, ao poucos, compensada pela crescente utilização da eletrônica.

A Renault construiu um computador que controlava, dos boxes, as informações do carro na pista.

A Brabham e a Ferrari davam os primeiros passos na mesma direção.

Gordon Murray criou, baseado no regulamento novo, um carro extraordinário.

Ele era o Brabham BT 52.



Nelson Piquet disse que o carro era uma maravilha.

E ainda declarou que o prazer de dirigir carros construídos por Gordon Murray foi fundamental para a renovação do contrato com a Brabham.

Assim era o cenário para o início do campeonato.

A primeira, de um total de 15 corridas, seria realizada no Rio de Janeiro.

Os treinos.

O Campeão de 1982, comprovando a boa fase, carimbou a pole position.

Kake Rosberg e a sua Williams, formavam um conjunto bastante afinado.

O companheiro de Rosberg era Jacques Laffite.

O Francês, ainda tentando pegar a mão do carro, ficou com um modesto 18o lugar.

Alain Prost, pilotando um Renault que melhorava a cada dia, fez o segundo melhor tempo.

O Outro Renault, pilotado por Eddie Cheever, ficou com a 8a posição na largada.

Muitos treinos, durante o inverno europeu, criaram uma grande expectativa para a Ferrari.



Seus dois pilotos, Patrick Tambay e Rene Arnoux, ficaram com o 3o e o 6o tempos, respectivamente.

A Brabham, com Nelson Piquet, conseguiu a Quarta posição.

A outra, com Riccardo Patrese, ficou com o sétimo lugar.

Um surpreendente Derek Warwick, com um não menos surpreendente Toleman, conquistou o quinto lugar no grid.

A McLaren foi discreta nos treinos.

Niki Lauda em 9o lugar.

John Watson em 16o.

A corrida.

Domingo de muito calor.

Oitenta mil pessoas no autódromo.

Partiram.

Foi uma largada perfeita.

Ninguém errou.



Rosberg manteve-se na dianteira.

Prost estava em segundo.

Tambay assegurou a terceira posição e Nelson Piquet ficou em quarto lugar.

Ao mesmo tempo, nos boxes da Brabham e da Williams, para surpresa geral, tinha início uma série de preparativos.

Espanto.

As duas equipes, em segredo, pretendiam fazer um reabastecimento.

Todos os outros times fariam uma corrida convencional, sem paradas.

Os carros de Rosberg e Piquet, mais leves, deveriam andar mais rápido.

E andaram.

Na Segunda volta, Piquet ultrapassou Tambay, ficando com o terceiro lugar.

Logo depois, uma volta mais tarde, o brasileiro fez uma notável ultrapassagem sobre Alain Prost.

Rosberg continuava líder.

Piquet era o segundo.

Nelson Piquet pulverizava os cronômetros.

Uma volta melhor que a outra.



Era uma demonstração de pilotagem com estilo.

Uma condução limpa e, ao mesmo tempo, arrojada.

Não sacrificava o carro e, paradoxalmente, extraía tudo dele.

Com todas as qualidades explodindo na corrida, Piquet partiu para cima de Rosberg.

Em manobra impecável, assumiu a primeira colocação.

E sumiu.

Disparou na frente.

Enquanto isso, Niki Lauda iniciava uma grande recuperação.

Depois de Ter largado em nono lugar, o austríaco já ocupava o quinto posto.



Lauda fez ultrapassagens arrojadas, demonstrando que as marcas do pavoroso acidente estão restritas ao seu rosto.

Em 1983, o reabastecimento com troca de pneus, era uma atividade pouco usual.

O tempo gasto era de 15 segundos, em média.

Considerando entrada e saída dos boxes, perdia-se, aproximadamente, 50 segundos.

Piquet e Rosberg precisavam descontar este tempo.

Nelson Piquet voava.

E não errava.

Ele marcou a melhor volta da corrida.

E aumentava a distância para os adversários.

Quando, na volta 39, ele parou para abastecer, a diferença para o Rosberg era de 1 minuto e 10 segundos

A distância para os demais competidores era astronômica.

Piquet entrou nos boxes.

O trabalho dos mecânicos foi perfeito.

Piquet retornava a pista 50 segundos depois.

Ainda em primeiro.

Tranqüilo.

Foi a vez de Rosberg parar.

O trabalho dos mecânicos da Williams não foi tão eficiente.

Durante o reabastecimento do Williams houve um princípio de incêndio.

Keke Rosberg saltou fora do carro com a bunda em chamas.

Os bombeiros logo controlaram a situação.



Rosberg, apesar disso, pode retornar ao carro e a corrida.

Ele, porém, tinha perdido muito tempo.

Piquet reinava absoluto.

Com a sua condução rápida e segura, mantinha a corrida sob controle.

Lauda já estava no segundo lugar.

Rosberg caiu para o quinto posto e vinha recuperando terreno.

Ele passou todo mundo, realizando uma bela recuperação.

Keke Rosberg passou até por Niki Lauda, retomando o segundo lugar.

Um sossegado Nelson Piquet administrava a corrida.



Ele não cometeu erros e cruzou a linha de chegada com mais de 1 minuto de vantagem para Rosberg.



Lauda chegou em terceiro.

Patrick Tambay foi o quarto piloto a cruzar a linha de chegada.

Depois da prova, devido a irregularidade no peso da Williams, Keke Rosberg foi desclassificado.



Foi mais uma bela vitória de Nelson Piquet.

Um estilista.



Campinas, 31 de agosto de 2001


Claudio Medaglia