GRANDE PREMIO DE SAN MARINO DE 1981


Imola, 3 de maio de 1981

Todas as opiniões aqui escritas são parciais e tendenciosas.

Sempre fui um macaco de auditório da Lotus e um grande administrador de Colin Chapman. Ele construiu vários carros revolucionários. Rápidos. Vencedores. E Lindos.

A vida seguia seu rumo até que, em 1980, a FISA divulgou seu novo regulamento que, em seu artigo 3.7 decretava que os carros não podiam ter nenhuma parte aerodinâmica móvel.

Chapman, então, e em conseqüência, construiu o Lotus 88.

Era um carro que tinha dois chassis sobrepostos, não tendo, surpreendentemente, partes aerodinâmicas móveis.

Com isso, ele continuava a obter o efeito asa, contornando os dispositivos da lei. A lei dizia que o carro não poderia ter partes aerodinâmicas móveis.

E o Lotus 88 não tinha.

Colin Chapman inscreveu o Lotus 88 em Long Beach, a primeira corrida da temporada de 1981. Foi proibido de correr.

Inscreveu o carro na prova seguinte, o GP do Brasil, em Jacarepaguá. Também foi proibido de correr.

Na terceira etapa, o GP da Argentina, o Lotus 88 foi novamente inscrito. E, novamente, foi proibido de correr, sob a acusação de ilegalidade.

Chapman ficou uma fera. Distribuiu, em Buenos Aires, um longo e violento manifesto a imprensa, dizendo que os dirigentes da fórmula 1 e os chefes das outras equipes estavam com medo do Lotus 88 e, em conseqüência, boicotando-o.

A resposta da FISA veio na hora. Levou uma multa de 100.000 dólares por ofensa. E fez mais.

Proibiu em definitivo a participação do revolucionário Lotus 88, genial criação de Colin Chapman.

Colin Chapman, visivelmente abatido e com sinais de depressão, ameaçou abandonar a fórmula 1.

A verdade é que Chapman estava em uma sinuca de bico.

Ele tinha investido boa parte do seu dinheiro no projeto e na construção do Lotus 88. E, para piorar, seu patrocinador, a Essex, estava ameaçando não honrar os pagamentos mensais, caso o Lotus 88 não fosse para as pistas.

A Lotus, em conseqüência, não apresentou nenhum carro em Imola, alegando problemas financeiros agravados pela prisão de David Thieme, o dono da Essex, seu principal patrocinador. Thieme foi preso na Suíça por sonegação de impostos.

Nestas circunstâncias, era bastante provável a falência da Lotus.

O jornalista Fernando Del Corso dizia, de maneira muito inteligente, que o Lotus 88 foi o Frankenstein moderno, onde a criatura fantástica matou o seu genial criador.

Repare o desenho e acompanhe os detalhes.

  1. o chassi é construído com novos materiais. Fibra de carbono e kevlar.

  2. Os radiadores laterais são montados em posição diferente em relação aos demais fórmula 1. Eles oscilam para baixo e para cima e estão colocados dentro da carenagem.

  3. Os tubos do escapamento são muito curvos, a fim de permitir o perfeito encaixe do segundo chassi.

  4. O reservatório de óleo está colocado na posição convencional dos fórmula 1.

  5. A suspensão traseira tem desenho diferente, com braços fabricados a partir de pecas inteiras de metal usinado.

  6. Aqui está a suspensão dianteira do chassi secundário.

  7. Condutores de ar e caixas para os radiadores.

  8. A primeira cinta do sobre chassi, na qual é fixada a carroceria.

  9. A segunda cinta, na qual é fixada a carroceria.

  10. A suspensão traseira do chassi principal é fixada com molas muito duras, para pouca variação aerodinâmica.

  11. Furos de fixação do aerofólio traseiro.

  12. A terceira cinta, na qual é fixada a carroceria.

  13. A parte superior e dianteira da carroceria é caracterizada por um nariz muito estreito e curvo e pela posição avançada do piloto.

  14. As partes superiores e inferiores do chassi são presas juntas e se fecham completamente, permitindo que o chassi secundário flutue dentro da carroceria.

  15. O final da carroceria é afunilado, de maneira a permitir a passagem do ar sem influir no aerofólio.

  16. O pequeno aerofólio traseiro e colocado muito baixo, criando um efeito de extração do ar da parte inferior do carro.

Vamos para os treinos do GP de San Marino.

O argentino Miguel Angel Guerra conseguiu, pela primeira vez, classificar o seu Osella para correr.

A pole position foi conquistada por Villeneuve e sua Ferrari.

Os testes de desenvolvimento do modelo turbo foram produtivos.

A Ferrari, com Villeneuve, obteve a volta mais rápida nos treinos, com extrema facilidade.

A segunda posição no grid foi obtida por Carlos Reutemann, andando muito mais rápido que o seu companheiro de Williams, o campeão Alan Jones.

René Arnoux, pela primeira vez na temporada, estava obtendo tempos melhores do Alain Prost. A Renault fez terceiro e quarto tempo.

Piquet, com a sua Brabham BT 49C, era o quinto colocado.

O sexto tempo era de Didier Pironi, a bordo a outra Ferrari.

A corrida.

Largaram.

Pironi fez extraordinária largada, assumindo o segundo posto, logo atrás de Villeneuve.

Piquet estava em terceiro, também fazendo boa largada, porém, na primeira curva levou um empurrão e caiu para a nona colocação.

A primeira volta foi completada com Villeneuve liderando, seguido por Pironi, Reutemann, Jones, Patrese, Arnoux, Watson, Laffite e Piquet.

Lamentavelmente, Miguel Angel Guerra bateu forte a sua Osella e quebrou a perna esquerda.

O brasileiro começou a fazer uma grande corrida de recuperação.

Na quinta volta Piquet estava em sétimo lugar, depois de ultrapassar Laffite e Watson.

Nelson Piquet assumiu o 6o lugar, ao passar René Arnoux, na volta número dez.

Villeneuve, para surpresa geral, resolveu trocar os pneus na 14a volta e perdeu a ponta.

Pironi estava em primeiro.

Na mesma volta Piquet ultrapassou Alan Jones e assumiu a quarta colocação.

Patrese, pilotando com maestria a sua Arrows, ultrapassou a Williams de Carlos Reutemann.

Nelson Piquet chegou em Carlos Reutemann.

Os espectadores em Imola viram um duelo notável protagonizado pelos dois sul-americanos.

Andando juntos e com estilos muito parecidos, Reutemann e Piquet disputaram o terceiro lugar na corrida durante oito voltas.

Nelson Piquet, finalmente, ultrapassou Reutemann.

Enquanto isso, Villeneuve voltava aos boxes para outra troca de pneus.

O canadense perdeu qualquer possibilidade de vitória mas não perdeu o estilo. Fiel a sua maneira exuberante de pilotar, Villeneuve deu um show de recuperação, recuperando posições volta a volta.

Piquet chegou em Patrese.

O brasileiro estava mostrando uma nova faceta. Cada ultrapassagem era meticulosamente ensaiada e executada. Ele levou mais sete voltas para ultrapassar Riccardo Patrese, em manobra perfeita e definitiva.

A classficacao do GP de San Marino, até então, era Pironi, Piquet, Patrese e Reutemann.

Didier Pironi liderava com a sua Ferrari e Nelson Piquet, com a sua Brabham BT 49C, estava em segundo lugar.

Piquet chegou em Pironi e começou a pressionar.

A ultrapassagem aconteceu 14 voltas depois. Foi um longo duelo, revelando um Piquet calculista e frio.

Piquet foi embora e Pironi ficou em segundo.

Pironi, provavelmente abatido pela perda do primeiro lugar, diminuiu a concentração e foi ultrapassado sem qualquer resistencia por Patrese, Reutemann e Rebaque.

Carlos Reutemann marcou pontos pela 14a corrida consecutiva. Um recorde.

Foi a mais bonita vitória de Nelson Piquet na fórmula 1, até agora.

Depois da quarta etapa do Campeonato Mundial de 1981, Carlos Reutemann liderava com 25 pontos, seguido por Nelson Piquet, habilitando-se ao título, com 22.


Campinas, 09 de marco de 2001


Cláudio Medaglia