GRANDE PRÊMIO DA AFRICA DO SUL DE 1979


Kyalami, 3 de marco de 1979


O Lotus era o melhor carro em 1978.

Entretanto, as duas primeiras corridas de 1979, Argentina e Brasil, apresentaram o domínio absoluto e acachapante dos novíssimos Ligier JS11.

A fórmula 1 exibia um nível de evolução criativa raras vezes vista.

A terceira etapa do campeonato de 1979, o Grande Prêmio da África do Sul, continuou mostrando grandes novidades e enormes diferenças de estilo.

A Ferrari 312T4 e a Brabham BT48, duas grandes estréias do Grande Prêmio da África do Sul, não poderiam ser mais diferentes em conceito e estilo.

Talvez motivada pela atmosfera de novidades, a Equipe Copersucar antecipou o lançamento do F6. Emerson era contra. Ele achava que o carro ainda nao estava pronto para competir.

Foi convencido por Wilsinho Fittipaldi e pelo projetista Ralph Bellamy a aprimorar o carro em condições de corrida, buscando acelerar o seu desenvolvimento.

Os treinos.

A Renault estava investindo uma fortuna no desenvolvimento do RS01. Os resultados, conforme o cronograma, estavam surgindo. O ar rarefeito da pista de Kyalami, com 1.800 metros acima do nível do mar, auxiliou bastante os motores turbo dos Renault.

Deu a lógica.

Jean Pierre Jabouille foi o pole position.

Fácil.

Em segundo e terceiro lugar, confirmando o equilíbrio e o acerto do projeto das novíssimas Ferrari T4, ficaram Jody Scheckter e Gilles Villeneuve.

É importante destacar que os três primeiros no grid estavam com pneus Michelin.

O quarto melhor tempo foi conquistado por por Niki Lauda, ao volante da Brabham BT48, sem os spoilers dianteiros.

Notava-se aqui, uma extraordinária diferença de estilo e concepção aerodinâmica.

Enquanto Mauro Forghieri projetava a Ferrari 312T4 com o spoiler dianteiro bastante destacado do conjunto e com dimensões avantajadas, Gordon Murray retirou, radicalmente, o spoiler dianteiro da Brabham BT48, alegando que em uma pista com retas enormes, como Kyalami, eles eram totalmente dispensáveis.

Em quinto lugar, classificou-se Patrick Depailler, com a sua Ligier.

Pela primeira vez no ano, a Ligier não estava na primeira fila e, também, Jacques Laffite, o sexto colocado, era batido por seu companheiro de equipe.

O sétimo tempo foi conquistado por Didier Pironi, com sua Tyrrell 009.

Mário Andretti fez o oitavo melhor tempo.

Seu companheiro, Carlos Reutemann, foi apenas o 11o no grid e declarou que os Lotus 79 chegaram ao limite máximo de desenvolvimento.

Restava aguardar o lançamento do Lotus 80.

Especulava-se que seria a obra prima de Chapaman.

Um carro sem aerofólio e sem spoiler.

Voltando aos treinos, Nelson Piquet largaria na 12a posição, com sua Brabham BT48.

Emerson Fittipaldi, estreando o F6, foi quase dois segundos mais lento do que o F5A na mesma pista.

Ficou em 18o lugar na largada.

A corrida.

Chegou o domingo.

Com ele, a chuva.

Depois, o sol.

Depois, a chuva.

Em seguida, o sol.

A largada foi acionada com todas as incertezas do mundo.

Choveria ou faria sol?

Scheckter pulou na frente.

Ele era seguido por Jabouille e Villeneuve.

Começou a chover.

Durante duas voltas, com muita chuva, os três primeiros alteraram as posições muitas vezes.

Na terceira volta, com Scheckter em primeiro, a corrida foi interrompida.

A nova largada foi dada quarenta e cinco minutos depois.

A pista, apesar de muito molhada, estava secando.

A chuva tinha parado.

O diretor da prova foi precipitado. Bastava esperar mais dez ou quinze minutos e os pilotos poderiam correr com pneus slick.

Quase todos largaram com pneu de chuva.

Apostando que a pista logo secaria, Scheckter, Piquet, Depailler e Tambay optaram por pneus slick.

Gilles Villeneuve disparou na frente.

Scheckter em segundo.

Revelando consistência e arrojo, Scheckter defendeu a sua segunda posição contra o ataque de pilotos com pneus de chuva.

Na volta 18, com a pista totalmente seca, Villeneuve parou para trocar os pneus.

Quase todos os pilotos trocaram os pneus.

Jody Scheckter assumiu a ponta, com confortáveis trinta segundos sobre Villeneuve.

Em terceiro lugar, fazendo uma grande corrida, vinha Jean Pierre Jarier, ao volante de um Tyrrell 009.

Jody Scheckter liderava, tranqüilo e sereno.

Foram trinta voltas de um desfile impecável de Scheckter e da nova Ferrari.

Entretanto, na volta 53, Scheckter, que já vinha percebendo um desgaste elevado dos pneus, travou as rodas na freada para a curva Crowthome e foi obrigado a parar nos boxes para trocá-los.

Scheckter voltou para a pista em segundo lugar, trinta e cinco segundos atrás de Villeneuve.

Jean Pierre Jabouille, sofrendo com a pouca durabilidade do motor Renault, mais uma vez foi obrigado a abandonar a corrida.

Villeneuve liderava.

Scheckter vinha babando em segundo lugar, tentando reduzir a diferença.

Em seguida, vinham Jarier, Andretti, Reutemann, Lauda e Piquet.

Na volta 62, Alan Jones teve a suspensão traseira do seu Williams quebrada na entrada da reta dos boxes.

Ele rodopiou várias vezes a 200 km/h, sem bater em nada, parando, intacto, no meio da pista.

Jones foi aplaudido pela arquibancada, reconhecendo sua habilidade em situação tão crítica.

Jean Pierre Jarier foi o segundo melhor piloto da corrida.

Nosso conhecido Pé de Chumbo andou muito rápido.

Foi arrojado e impetuoso, principalmente durante a chuva, quando estabeleceu uma enorme diferença para os demais pilotos.

Mário Andretti e Carlos Reutemann, conformados com as reduzidas possibilidades do Lotus 79, fizeram uma corrida discreta e sem erros.

Os dois pilotos terminaram a provo em boa colocação.

Andretti foi o quarto lugar.

Reutemann, o quinto.

Niki Lauda e Nelson Piquet estavam provando que o Brabham tinha futuro.

Fizeram o que foi possível e levaram os carros ao final da corrida, no melhor desempenho do ano.

Lauda chegou em 6o lugar, enquanto Nelson Piquet terminava em sétimo.

Emerson Fittipaldi chegou em 13o lugar, conseguindo levar o novo F6 ao final da prova.

Foi uma difícil estréia.

Entre treinos e corridas, o F6 apresentou os seguintes problemas:

a)superaquecimento b) os freios puxavam o carro para todos os lados c) o volante é duro e pesado d) o cinto de segurança é tão apertado que corta a circulação do sangue das pernas e) o carro é péssimo em curvas de baixa velocidade f) o carro sai muito de frente g) o carro é 2 segundos mais lento que o F5A.

Emerson, apesar de decepcionado, disse que não desanimaria.

Gilles Villeneuve, pilotando com a tradicional rapidez e com uma surpreendente segurança, não cometeu erros e venceu a corrida.

Jody Scheckter, o melhor piloto da prova, conseguiu reduzir a distância de Villeneuve para apenas 3 segundos.

Ele chegou a levantar a arquibancada, criando a expectativa de que alcançaria Villeneuve.

Não deu.

A corrida terminou antes.

A Ferrari conquistou uma inédita dobradinha de um carro estreante.


Campinas, 15 de junho de 2001


Cláudio Medaglia