Nivelles, 12 de maio de 1974
O Campeonato de 1974 chegou a sua quinta etapa.
Clay Regazzoni liderava com 16 pontos, seguido por Niki Lauda com 15 e Emerson, com 13.
Os vencedores das etapas anteriores foram, Hulme, Emerson, Reutemann e Lauda.
A equipe McLaren foi agraciada com um enorme prejuízo antes da prova.
O caminhão que transportava os carros do time envolveu-se em um acidente de estrada.
Um automóvel, com dois espanhóis, andava na contramão e chocou-se de frente contra o caminhão.
Os dois espanhóis morreram na hora, o que ocasionou a retenção do caminhão e dos mecânicos da McLaren.
A polícia só liberou o caminhão e o motorista as vésperas do Grande Prêmio da Bélgica.
Os treinos.
Os melhores classificados no treino de sexta-feira foram: Hunt ( Hesketh ), Lauda (Ferrari ), Regazzoni ( Ferrari ), Peterson ( Lotus ) e Emerson ( McLaren ).
Sábado.
Emerson, tentando maior velocidade na grande reta de Nivelles, diminuiu bastante o ângulo do aerofólio traseiro.
Depois dos treinos de sábado, para espanto geral, a cronometragem oficial apontou Clay Regazzoni como o pole position.
Era um absurdo.
A própria Ferrari reconhecia que Regazzoni tinha obtido apenas o 9o tempo.
Os protestos foram inúteis.
A direção da prova manteve a classificação da cronometragem oficial.
Regazzoni ganhou a pole.
Ao seu lado, largaria Scheckter ( Tyrrell ).
Em seguida, Lauda ( Ferrari ), Emerson ( McLaren ) Peterson ( Lotus ) e Beltoise (BRM ).
Domingo.
A Largada.
Regazzoni pulou na frente, seguido por Scheckter.
Emerson Fittipaldi, contrariando o seu histórico, largou muito bem e conquistou a terceira posição de Lauda.
No final da reta, Scheckter tentou passar Regazzoni.
Retardou a freada ao máximo e errou.
Travou tudo.
Entrou de lado na curva e, não só desperdiçou a oportunidade de ultrapassar Regazzoni, como perdeu a segunda posição para Emerson.
A primeira volta foi completada com Regazzoni, Emerson, Scheckter, Lauda, Peterson, Hunt e José Carlos Pace ( Surtees ).
As voltas seguintes apresentaram uma divisão da corrida em dois blocos.
O primeiro ia até o sexto colocado, James Hunt.
O segundo era liderado pôr José Carlos Pace.
Moco fazia o impossível ao volante do Surtees.
O desempenho notável da primeira turma fazia abrir um intervalo enorme para a segunda.
A Ferrari de Regazzoni estava muito rápida na reta.
Ele abria grande distância para Emerson, que só conseguia descontar parte dela no miolo do circuito.
A diferença, portanto, aumentava.
Na volta número 20, Niki Lauda, comprovando a boa fase da Ferrari, assumiu a terceira posição ao ultrapassar Scheckter.
Emerson Fittipaldi exibia o melhor da sua técnica.
Sem errar, o brasileiro encostava na Ferrari de Regazzoni no miolo do circuito.
Tornava a perder distância na reta.
Menos, porém.
Cada vez menos.
Emerson grudava em Regazzoni nas curvas de baixa e média velocidade e entrava na reta pegando o vácuo da Ferrari.
A grande reta era engolida pelos dois carros, praticamente colados.
Fittipaldi começou a provocar Rega.
Ameaçou passar, por duas vezes, em curvas do miolo.
Regazzoni fechou a porta nas duas tentativas.
Enquanto isso, Niki Lauda voava.
O austríaco foi chegando.
Chegando.
Chegou.
Ele grudou em Emerson.
Que baita corrida.
Na 40a volta os três líderes rasgavam a grande reta.
No final dela, o glorioso Gerard Larrousse, pilotando uma Brabham, andava lento, como de hábito.
Clay Regazzoni tentou uma arriscada jogada ao passá-lo no último momento.
Se desse certo, ele colocaria Larrousse na frente de Emerson e Lauda no início da parte mista do circuito.
Não deu certo.
Regazzoni cometeu o mesmo erro de Scheckter e perdeu a mão do carro.
Emerson, brilhante e ágil, ultrapassou Regazzoni.
Lauda, não menos talentoso, também.
O piloto brasileiro estava liderando o Grande Prêmio da Bélgica.
Vamos tomar fôlego.
Aproveitamos para ressaltar a brilhante e surpreendente corrida de Jean Pierre Beltoise.
O veterano piloto francês, pilotando uma BRM, corria com muito arrojo e combatividade.
Lá na frente, Emerson e Lauda imprimiam um ritmo forte de corrida.
Em pouco tempo os dois abriam um boqueirão para Regazzoni.
A disputa pelo vitória, agora, resumia-se a Emerson e Lauda.
Todos os olhos estavam voltados para eles.
Poucos notaram, pôr isso mesmo, o belo desempenho de Scheckter.
O Tyrrell 007 estava mostrando as qualidades de um grande projeto, para a alegria de Jody Scheckter.
Emerson e Lauda continuavam a duelar.
Na primeira parte da corrida, enquanto perseguia Regazzoni, Emerson virava em 1m14s
Agora, na parte final da prova, Emerson fazia a volta em 1m12
E não conseguia abrir de Lauda.
A Ferrari 312 era um carro extraordinário.
Seu motor de 12 cilindros fazia Lauda andar mais rápido na longa reta do circuito de Nivelles.
Emerson contornava a situação no miolo, onde chegava a ganhar terreno.
Na reta, porém, Lauda chegava.
Faltavam 10 voltas para o fim da corrida e Niki Lauda resolveu atacar.
Por duas vezes, Lauda chegou a ficar ao lado de Emerson no final da reta.
No lado sujo da pista, porém, o que comprometia a tomada da curva.
Emerson resistia.
O desempenho dos pilotos era tão forte que abriram 30 segundos de diferença para Clay Regazzoni.
Regazzoni, por sua vez, estava sofrendo um persistente ataque de Scheckter, na luta para a terceira colocação.
Cinco voltas para o final.
Alguns retardatários a frente.
Lauda, um piloto notável, negociou melhor as ultrapassagens e encostou de vez.
As últimas voltas foram uma aula de pilotagem.
Emerson e Lauda, rapidíssimos, não erravam.
Última volta.
Lauda tentava.
Emerson não dava chance.
Na última curva, antes da reta de chegada, Lauda colou o bico da Ferrari no câmbio da McLaren.
Emerson manteve a trajetória ideal.
Lauda não tinha como ultrapassá-lo.
E assim foi.
Emerson Fittipaldi cruzou a linha de chegada uma fração de segundo a frente de Niki Lauda.
Ainda na última volta, como um prêmio pela bela corrida, Scheckter ultrapassou Regazzoni.
Os primeiros colocados foram: Emerson, Lauda, Scheckter, Regazzoni, Beltoise e Hulme.
Uma grande e inesquecível corrida.
Foi a Segunda vitória do brasileiro no campeonato de 1974.
Emerson liderava o campeonato com 22 pontos, seguido por Lauda ( 21 ) e Regazzoni ( 19 ).
Claudio Medaglia
Campinas, 6 de novembro de 2001