GRANDE PRÊMIO DA INGLATERRA DE 1972


Brands Hatch, 15 de julho de 1972


Tradição é o que não falta na Inglaterra.

Até nas corridas.

O Grande Prêmio da Inglaterra era disputado aos sábados.

Outra tradição, bastante apreciada, era o prêmio de cem garrafas de champanha, concedido ao melhor tempo obtido na primeira hora do treino de Quinta-feira.

Logo no início Emerson cravou uma volta muito rápida e fez o melhor tempo.

Entretanto, Peter Revson, pilotando um McLaren, pulverizou o tempo de Emerson.

O brasileiro saiu mais uma vez e, faltando pouco para terminar a primeira hora do treino, dinamitou o tempo de Revson.



As cem garrafas de champanha foram entregues aos mecânicos, outra tradição inglesa.

Os mecânicos da Lotus vibraram.

E beberam.

Os treinos continuaram e Stewart obteve a melhor marca.

Na Sexta-feira, com pneus macios, os melhores tempos ficaram com Ickx, Emerson, Revson e Stewart.

A equipe Surtees surpreendeu e classificou Tim Schenken em quinto e Mike Hailwood em sétimo.



No meio deles, Jean Pierre Beltoise, com BRM.

A outra Ferrari, pilotada pelo Arturo Merzário, ficou com um distante nono lugar.

Francois Cevert não acertou a mão, obtendo apenas a 12a colocação no grid.

José Carlos Pace, com March, ficou na 13a posição.

Wilson Fittipaldi, com um problemático Brabham, foi para o fim do grid, largando em 22o lugar.

Sábado de corrida.

Sol firme.

Não era uma tradição inglesa.

Largaram.

Na largada ocorreram mais duas tradições.

Ickx largou muito bem.

Emerson, nem tanto.



A Ferrari do belga saltou na frente e contornou as curvas do Paddock e Druids na frente de Fittipaldi.

Em terceiro, fazendo uma esplêndida largada, vinha Jean Pierre Beltoise.

Peter Revson estava em quarto lugar, posicionando-se a frente de Stewart.

Iniciaram a Segunda volta e Jacky Ickx aumentou o ritmo.

Emerson, decidido, aumentou também.

Os dois voavam.

Ickx aumentava a distância nas retas.

Emerson encostava nas curvas.

A partir da oitava volta, Stewart, que despachara Revson e Beltoise, resolveu baixar a bota.



O escocês começou a descontar meio segundo a cada volta.

Estabeleceu, então, a volta mais rápida da corrida.

Na 15a volta Stewart chegou de vez.

Ickx aumentou o ritmo.

Emerson também.

Stewart, idem.



Emerson não conseguia passar Ickx.

Stewart não conseguia passar Emerson.

Os três líderes, voando, chegaram no primeiro retardatário.

Ele era Dave Walker, piloto da outra Lotus.

Walker abriu, antes da freada da Druids.

Ickx e Emerson e Stewart passaram ao mesmo tempo.

O belga perdeu o ponto de frenagem e fez a Druids de lado, derrapando.

Emerson, que tinha Ickx como referência, também perdeu o momento da freada e entrou derrapando.

Sensacional.

Ickx e Emerson contornavam a Druids de lado, derrapando, quase batendo.

Redondo, preciso e ágil, Stewart assumiu a Segunda colocação ultrapassando Fittipaldi, aproveitando-se da derrapada do brasileiro.

E ainda levou o retardatário Walker a reboque.

Surpreendentemente, Emerson levou muito tempo para passar Walker que, desta vez, não abria.

Finalmente, depois de um bom tempo, Emerson conseguiu superar Walker.

Com a pista livre, ele começou a recuperar o tempo perdido.

Cinco voltas, Emerson juntou-se ao grupo.



Ickx, Stewart e Emerson, novamente, andando juntos e no limite.

Os líderes chegaram em Wilson Fittipaldi ma curva Druids.

Sempre ela.

Wilsinho atrapalhou-se, freou tarde e derrapou.

Ickx, muito esperto, passou pela parte interna da curva.

Stewart deu de cara com Wilson Fittipaldi derrapando e, em conseqüência, entrou de lado na curva.

Emerson aproveitou a brecha e passou pôr Stewart.

O filme se repetia, com os papéis trocados.

Ickx fugiu na liderança.

Emerson voava para tentar alcanca-lo.

Duas voltas depois, Emerson encostou em Ickx.

E Stewart, no Emerson.

Faltavam 25 voltas para o final da corrida quando, repentinamente, Ickx levantou o braço e abandonou, com problemas no motor.

Emerson passou a liderar.

Stewart, três segundos depois, era o segundo colocado.

Peter Revson estava andando muito bem.



Seu McLaren M19 correspondia e ele estava em terceiro lugar.

Faltavam 10 voltas para o final do Grande Prêmio da Inglaterra e os líderes chegaram na curva Druids.

Sempre ela.

Emerson freou tarde, travou os pneus e perdeu tempo.

Stewart, aproveitando o erro, encostou de novo.

A diferença entre os dois era zero.

A corrida caminhava para o final e os dois líderes andavam no limite.

Emerson concentrou-se e procurou não errar.

Guiando o fino, com tomadas de curvas perfeitas, foi abrindo alguns décimos de segundo a cada volta.

Faltavam cinco voltas para o final e a diferença entre eles chegou a dois segundos.

Chris Amon, pilotando um Matra, ocupava a Quarta colocação na corrida.



Era um resultado fantástico, considerando que ele tinha largado em 17o lugar.

Emerson estava perfeito.

Stewart não conseguia acompanhar.

Ultima volta.

Emerson não errou.

Stewart acompanhou.

Cruzaram a linha de chegada com quatro segundos de diferença.

Foi uma vitória notável de Emerson.



Uma das melhores performances da sua carreira.

Ele foi obrigado a andar no limite, o tempo todo, provocado pelos admiráveis Ickx e Stewart, em plena forma.


Campinas, 20 de julho de 2001


Claudio Medaglia